PPK

Ela,
a xoxota,
que mesmo sem ouvidos,
muita falação escutou.

sim!
Ela mesma,
que não podia se ouriçar,
coçar,
nem acariciar.

Bem pretinha e quente,
foi desde cedo,
independente.
Porque,
se dependesse dos outros,
ficaria sem,
uma boa boca.

Sem essa de sirica,
ser pecado,
quando posso,
corro logo pro abraço,
e vou me namorar.

Pobre perereca,
aprendeu que só depilada,
era bela , e lá foi
se depilar.
Grande cilada!

Sofreu transição pentelhar,
colocou o black pro alto,
viu-se natural,
e saiu a pererecar.

Com ela não tem essa de...
 encenar.
Se a coisa não ta inteira,
verdadeira,
ela seca e poem-se a reinar.

O fálico,
não à define.

Vagina é um ser encantado,
de onde escorrem,
rios e realidades,
que só uma boceta poderia falar.

pra que mais teríamos tantos lábios,
senão para na Terra,
gozar e profanar ?

Quando pequena minha mãe me ensinou
"filha há pessoas pretas bonitas e pessoas pretas feias
"há pessoas brancas bonitas e pessoas brancas feias"

Pois bem cá estou eu
morena, mulata, escurinha,
café com leite, chocolate, Thais Araujo,
Sheron Meneses.

Tudo que eu já ouvi ainda está qui
ressoando dentro de mim
cada vez que eles repetem esses
"ELOGIOS"

Ta na hora de escurecer essa porra
cadê minhas manas pretas ?
cade as pretas que não são minhas manas.
A rua é noiz, mas nós não estamos aqui

Estamos lá na ecoville,
fazendo ecofaxinas, ,sendo ecomucamas
em ecojantatres

E aqui a gente falando de feminismo
O mais branco e lúcido feminismo

"ver uma branca sangrar é que me chocou
a gente sabe que na vila isso é todo dia"
30 mulheres brancas ouvindo essa frase com suas falsas empatias,
que vadias
a minha carne continua sendo a mais barata e vocês  acreditando ser intocadas
coitadas

Vamos escurecer essa porra
e cutucar algumas feridas rosadas


Vocês querem nosso "bronzeado"
nosso negão do lado
até quem sabe um baby lis
para imitar meu cabelo cacheado

Mas falar com a amiguinha
que chama as preta de vadia
que acham que festa boa é
festa com som de preto e
cheia de caucaneano
pagando uma de mano
aaaaah
ai vocês ficam caladinhas

Eu quero respeito, não medo
não vou ficar de cara fechada, pose de marrenta
de quebrada, pesada
só para tua boca não profanar esse pensamento racista

Agora você que na pele falta melanina
mas no peito há muito respeito
eu te respondo
sou sim a preta de amigas brancas

pois quando se nasce onde não há negros
ou seus amigos são brancos
ou são imaginários

E não ache que não houve momentos
em que o imaginário era meu único acalento
mas foi com meu sorriso que impus respeito

Cresci, desabrochei
flor de muitas cores e sabores
mulher negra, feminista, angoleira

E essa porra tem que escurecer,
quero que as brancas saibam

que não somos mais mucamas,
não somos barraqueiras, mulambentas
somos sim a resistência

que dentro do sofrimento
tiramos o sustento para erguer o black
e colorir os beiços

que de ama de leite
viramos damas
e possuímos no peito
capacidade de nutrir de amor e respeito
a faminta fé do povo brasileiro

Somos filhas de maria do camboatá
herdeiras de Iansã guerreira

Continuem sem entender
mas logo logo
essa porra vai escurecer.