10 de dezembro de 2018

Parente distante

Essa dor que assola meu peito
é fruto de um papo insano
frases repletas de desrespeito
Dói! eu entendo, mas a dor não é desmerecimento
das cargas alheias, eu olhei para o espelho
vi meus choros virarem gritos, desordem, palavras escritas e faladas

Me pus presente e o racismo me acompanha desde sempre
sendo poucas vezes latente, sorrateiro
me tirou do eixo, deixou lágrimas caírem até o queixo
não se queixe!
Você não sofreu
esse viver não é seu
legitimo não é suas linhas
te quero na minhas asinhas.

Nunca te chamaram de mucama
não reclama!

Foram chicotadas da pessoa amada, palavras amargas.
Me libertei das amarras
fugi com Dandara.
 Agora encara o mostro que vocês criaram
 que o racismo alimentou
cansei de ser o que você pensou.
Tenho minhas asas, lanças e espadas
quando baixei a guarda
seus dizeres me deixaram marcas.
Mas não paro, embarco
nesse navio a deriva, cheio de sonhos e poesia
buscando coragem, fé e alegria.

Fia, os racista na escola me seguia
tinha medo,me sentia culpada
eu te escondia,
não queria ver tu sofrer ao conhecer o Brasil da hipocrisia

7 de novembro de 2018

Silveira poema

Antes mesmo do petróleo reinar,
já haviam reis negros a ancorar,
Negros presos em troncos.
sincretizando orações,
colhendo café e mantendo sua fé,
mesmo encarcerados em porões.

Agora que o engenho se foi,
e todo açúcar derreteu,
sabemos quem é o herói do nosso povo.
Zumbi ! Que dia 20 de novembro morreu
e deixou legado,
Dandara seguiu seus passos.
Palmares resiste em nossos corpos,
toda vez que a poesia invoco.

Oliveira plantou a semente,
de consciência e exaltação da nossa gente,
nessa data tão marcante,
o grupo palmares gritou aos quatro cantos:
13 de maio é engodo!
Precisamos comemorar nosso esforço,
ressaltar nosso povo
e assim encontrei minhas origens,
em versos e cantos,
para que nunca esqueçamos,
declamo:

"Querem que a gente saiba que eles foram senhores
e nós fomos escravos. Por isso repito:
eles foram senhores e nós fomos escravos.
eu disse Fomos! "

4 de novembro de 2018

Viajem iniciada
o ciclista com o cigarro da boca
soou premonição.

O apocalipse previsto
entrou em ação

mesmo quando o transporte é 4,30 R$
Eu, mantendo a mente lúcida
no degrau da escada
toda amassada,
meio suicida

As palavras mal escritas
com o chacoalho do ônibus
é vivência lírica
puro fato
e nem  esse bando de pato
tira meu sorriso largo
ele é minha arma
minha armadura.

Eu sendo cabeça dura
cheia de travessuras , sigo em busca de liberdade
Jango Livre, sem maldade
  O que escorre de minhas veias é lava, lodo
ancestralidade
é sanha, sonho, sagacidade

Situação normais da contemporaneidade
duas horas de transito criativo
toda empoleirada,
mó role  atravessar essa cidade.

Entre nuvens e freadas bruscas
pela filosofia a mente busca
o que ofusca
nosso povo de bilhar
de cessar o humilhar
que nossas mães passam
e transcrevem no abraço

Podem até apagar nossos físicos traços
mas a chama que me nutre, magia negra
escura,
quanto mais se apaga, mais se propaga.

4 de outubro de 2018

Metade de mim é rima
a outra pura poesia
e entre elas tu passando a língua
no maior Swing
aos poucos fui ficando nua
expondo nossos corpos a luz da lua.

No ringue nossa trama
tu Dina DI
eu negro drama
na cama
revelando que essa dama
vai do inferno ao inverno
decifrando tuas curvas
nosso fogo, fluxograma.

E nessa ginga escura
tua mão na minha nuca
eu toda acesa tu toda astuta
provando que nossos corpos
ficam sim
na posição do Kama-Sutra.

Tu me tirando do trilho
trem que no teu corpo fez caminho
e termino
em teu gozo que escorre
na minha boca
percorre
teu sorriso
que pra mim foi ninho
onde enredei meus cachos
com as pernas fiz laços
e beijando cada pedaço
pernas, peitos e braços.

Corro pro abraço
desse sentimento doido
que me tirou do compasso
eu toda hétero macho
me vejo agora
querendo arrancar tua calcinha
dizendo que é minha
mesmo que só por um dia.

Então pretinha
bora lá pra casa,
queima um bom,
acordar as vizinhas
que não é todo dia
que se tem uma parceria
para rir, gozar e recitar umas poesias.


1 de setembro de 2018

Ying & yang

Nesse processo de idas e partidas
conheci irmãos gêmeos
que opostamente
carregaram em meu ventre ensinamentos.
O primeiro a me reconhecer foi
Desamor,
saiu murcho, lacrimejando
em silêncio, do lodo foi brotando
Me fitou, suspirou e me deu um abraço
Um tremor viceral tomou conta de mim
E entre seus nebulosos braços
Expus ao universo, as palavras do meu
Pequeno verso.
Inverso
meu corpo exclamava
ordem e desordem, Loucura da minha sensatez
palavras nunca expressadas por medo da invalidez
A luz do luar fui despida, de fé revestida
E assim encontrei o Amor
Diferente do gêmeo
ele era calor
Veio com um canto materno
Falando que nada é eterno.
Os dois cresceram tão rápido
Amor plantava em todos os vasos da casa
e depois de plantar, brotar, florescer
acabavam os vasos
a extasia se ia,
então Desamor
cuidadosamente escolhia
quem tomaria novos rumos
dando ao irmão espaço e mais húmus.
Um dia Desamor havia rasgado todas as folhas de seu caderno,
num tom pálido
nenhuma letra saltava
ele se mantinha fechado,
inchado
de tanta coisa no peito estar entalado.
Amor, que observava a angustia do irmão
colheu as mais belas folhas
Para encadernar.
Desamor sentiu ao tocar nas folhas já amareladas
o tempo a passar e o transformar
Os dois gêmeos seguem dentro de mim
Quando grito e quando me calo
Perdida equanto me encontro  questionando as minhas certezas
Me enraizando em nuvens.
Ando em tempo de desamor
Desamor me ensina tanto quanto Amor
nessa busca constante
de viver a vida sem perder o bom humor.

17 de agosto de 2018

A vida não é simples
amar
não tem nada de simples
e deixar ir
é o mais difícil
mas como prender quem quer ser solto ?

Como se agarra o vento?
na água nada é fixo
pode se equilibrar
mas nunca terá sustento

É assim que estou,
barco a deriva,
chuva caída
querendo na nuvem ficar.

É preciso ser muito mulher para amar e largar
para querer e abandonar
é preciso ter muita coragem para encarar o que a vida vem lhe entregar

Nossa rua é sem saída, só eu não tinha visto o ponto final
que veio, mansamente
eu pus vírgula, ponto e vírgula
para poder parafrasear.


IN(FORMA)ÇÃO

Na era da informação
da velocidade
temos tempo de amar de verdade?
Na era da tecnologia
tudo é passageiro
até mesmo a mitologia
que previu o apocalipse
e o engarrafamento
me proibiu de ver 
o tal eclipse.

A cada curtida
uma amnésia,
esqueci o cheiro da chuva
o cheiro de mar.
As vezes percebo que esqueci de me amar.

A tela vai enquadrando tudo,
minha visão, desfocada
não enxerga as possibilidades
as diferentes forma de estar realizada.

Pobre de nós humanoides,
e ainda querendo descriminar os negroides.
reproduzindo padrões Deby & Loide. 

Nano Chips estão em toda parte
e nós deixando de ser humanos
para virar
uma parte
parte do parto,
placenta
sustenta
faminto sistema
que engole nossas crenças
 e faz do caminhar
luta
pura
resistência
tentei a cura
perdi a paciência
fios enrolaram meu pensar
que vida dura
viver, sorrir e
não desistir de sonhar.

11 de junho de 2018

Enquanto houver muros

Nos muros gritou-se silêncio,
que dia e noite
tomou corpo,
forma e cor.

Sentimentos lambidos,
em viadutos e apartamentos.
Expondo ali medos,
e o violento policiamento.

Enquanto houver muros
rodarei minha saia
com os ventos encanados pelos becos  e vielas.
Bará abençoou meu caminhar,
Iansã me botou a girar,
gira de orixá na bagagem,
capuz, grude e coragem,
cores, latas e pixos.

As paredes soam diários,
nessa cidade de poucas verdades,
se o souberes ler,
segredos, sagrados,
lhe serão revelados.
.

26 de abril de 2018

Baixo Astral

Um estranho bateu em minha porta,
e não pude evitar de ele adentrar,
foi rapidamente se jogando no sofá,
nem deu papo,
só queria saber de cigarro e bebida,
deixou meu sofá fedido,
um aroma de humano perdido,
de cigarro em cigarro,
uma nuvem densa formara,
dentro da minha casa.

Eu que tão bondosa
que abri a porta
me via agora impregnada.

O barbudo morrinhento
não tava nem ai,
e logo na minha cama quis se deitar.
Foi passando a mão nas fotos
entristecendo tudo o que tocava
e eu mal pensava,
como esse homem parou aqui dentro
da minha casa,
do meu peito.

Ofereci banho e roupas claras,
um chá e uma oração,
ele queria sugar tudo, pegar a comida do fogão
se quer sentou para comer,
foi espalhando sujeira, esmigalhando emoções.

Quando percebi a casa toda suja,
meu olhos repletos de ódio e dor
tratei logo de expulsar,
aquele mesmo que
sem querer deixei entrar
Sai daqui,
vai pra lá baixo astral.

7 de abril de 2018

Em caso de emergência
puxe a alavanca
dizia a janela do ônibus,

Uma hora dentro desse poleiro
chacoalhador de brasileiro
seria esse motivo suficiente?

Argumento contanto minha trajetória,
os anos de faculdade
o racismo covarde
lembro de assassinatos
e dos políticos que nos tiram para ratos
experimentam na gente
a pobreza e o descaso.

Crente ser razões convincentes
peço para puxar
mas o cobrador insiste
só mais um passinho a frente.

Conto então, das crises de renite
e da dor de cabeça
que me agride
dou mais um palpite

Relembro tua partida
e exausta explico
que a passagem foi só de ida
que nossos encontros serão
breves experiências

PUXE A ALAVANCA
EM CASO DE EMERGÊNCIA

Amor negro
que surgiu no submundo
do subúrbio
em baixo do viaduto;

Nasceu uma ponte
não só dois pontos
mas uma trajetória
de luta e de vitória.

Duas bocas carnudas
quatro coxas grossas
formando base firme
para a ponte Afrondoza

Caminhos se criam
recriam
laços, ligações, vibrações
nosso sentimento nos reposicionou

A violinha chorou
as lágrimas do nosso amor
e fez mandingar nosso caminhar

Eram dois pontos submetidos
que subverteram as estatísticas
e surpreenderam o mundo
com seu mais sincero
desejo

de criar pontes
de amor verdadeiro.
Hoje paro nesse papel e sinto dificuldade
em expressar ou letrar
todo esse sentir e pensar.
Todo dia é uma chance que nossa mãe dá
para realmente olhar para si
Confesso que sinto que não consegui

as vezes me vejo sem fé
Que pecado, não é ?
Pois bem, é de fato!
Mas como não sentir depois de todo aquele pato ?

Logo eu cheia de atitude
assumindo a falta de plenitude
Sensação da qual desconfio
 conforto X confronto
Mesmo quando fujo caio nesse jogo

Dualidade, bipolaridade
jogo sujo que fez muita gente
donte, triste e demente
os sãos tentam resgatar a corrente
para a possibilidade da luz
da alegria que da alma reluz.

Quando seremos vencidos pelo amor ?
Pela bondade sem pudor ?
Quando nos renderemos à abraços e olhares?
Um dia receberemos eles em nossos lares ?

É tanta coisa que as letras  estão voando
Jorrando pelos dedos
em busca do desejo
de sentir a alma lavada.