26 de abril de 2018

Baixo Astral

Um estranho bateu em minha porta,
e não pude evitar de ele adentrar,
foi rapidamente se jogando no sofá,
nem deu papo,
só queria saber de cigarro e bebida,
deixou meu sofá fedido,
um aroma de humano perdido,
de cigarro em cigarro,
uma nuvem densa formara,
dentro da minha casa.

Eu que tão bondosa
que abri a porta
me via agora impregnada.

O barbudo morrinhento
não tava nem ai,
e logo na minha cama quis se deitar.
Foi passando a mão nas fotos
entristecendo tudo o que tocava
e eu mal pensava,
como esse homem parou aqui dentro
da minha casa,
do meu peito.

Ofereci banho e roupas claras,
um chá e uma oração,
ele queria sugar tudo, pegar a comida do fogão
se quer sentou para comer,
foi espalhando sujeira, esmigalhando emoções.

Quando percebi a casa toda suja,
meu olhos repletos de ódio e dor
tratei logo de expulsar,
aquele mesmo que
sem querer deixei entrar
Sai daqui,
vai pra lá baixo astral.

7 de abril de 2018

Em caso de emergência
puxe a alavanca
dizia a janela do ônibus,

Uma hora dentro desse poleiro
chacoalhador de brasileiro
seria esse motivo suficiente?

Argumento contanto minha trajetória,
os anos de faculdade
o racismo covarde
lembro de assassinatos
e dos políticos que nos tiram para ratos
experimentam na gente
a pobreza e o descaso.

Crente ser razões convincentes
peço para puxar
mas o cobrador insiste
só mais um passinho a frente.

Conto então, das crises de renite
e da dor de cabeça
que me agride
dou mais um palpite

Relembro tua partida
e exausta explico
que a passagem foi só de ida
que nossos encontros serão
breves experiências

PUXE A ALAVANCA
EM CASO DE EMERGÊNCIA

Amor negro
que surgiu no submundo
do subúrbio
em baixo do viaduto;

Nasceu uma ponte
não só dois pontos
mas uma trajetória
de luta e de vitória.

Duas bocas carnudas
quatro coxas grossas
formando base firme
para a ponte Afrondoza

Caminhos se criam
recriam
laços, ligações, vibrações
nosso sentimento nos reposicionou

A violinha chorou
as lágrimas do nosso amor
e fez mandingar nosso caminhar

Eram dois pontos submetidos
que subverteram as estatísticas
e surpreenderam o mundo
com seu mais sincero
desejo

de criar pontes
de amor verdadeiro.
Hoje paro nesse papel e sinto dificuldade
em expressar ou letrar
todo esse sentir e pensar.
Todo dia é uma chance que nossa mãe dá
para realmente olhar para si
Confesso que sinto que não consegui

as vezes me vejo sem fé
Que pecado, não é ?
Pois bem, é de fato!
Mas como não sentir depois de todo aquele pato ?

Logo eu cheia de atitude
assumindo a falta de plenitude
Sensação da qual desconfio
 conforto X confronto
Mesmo quando fujo caio nesse jogo

Dualidade, bipolaridade
jogo sujo que fez muita gente
donte, triste e demente
os sãos tentam resgatar a corrente
para a possibilidade da luz
da alegria que da alma reluz.

Quando seremos vencidos pelo amor ?
Pela bondade sem pudor ?
Quando nos renderemos à abraços e olhares?
Um dia receberemos eles em nossos lares ?

É tanta coisa que as letras  estão voando
Jorrando pelos dedos
em busca do desejo
de sentir a alma lavada.