8 de agosto de 2020

A órfã

Momentos antes de cerrar os olhos
são momentos que busco forças
para abri-los no dia seguinte. 

Tudo tão incerto
eu tão incrédula
a inveja da ignorância
soa a maior das burrices.

Querer não saber
para não sofrer a dor da escolha.

Feita de água e terra
assim como o lodo, afundo em mim
findo e renasço 
todo dia
nesse mesmo horário. 

Quando vejo o mundo girando
fora do meu quarto    calada
tento não exalar as dores 
de ser quem sou 

Nada faz sentindo!
Qual é o sentido de existir? 
Tenho pra quem ir ?
Há algum lugar onde a dor não possa me alcançar ? 

Tem vezes que sinto ruir 
dentro de mim
abismos que eu mesma construí.

A ignorância foi dádiva
eu não soube ouvir 
agora aqui, isolada     higienizada

Em processo lento 
e doloroso de
 descolonização 
em processo de aceitação,
entender que não me entendo
é a constante busca 

Vim à Terra em busca de mim
Onde estou? 

Lágrimas rolam pelo rosto
sorrisos forjados ao dia
calmarias fingidas à noite 
amores e dores que se misturam

A insegurança
de ser só uma criança 
órfã de si.