25 de março de 2020

É secular

Tudo instantâneo
tipo miojo
eu crente na verdade 
e você nem olha no meu olho 
E quando olhou
não me viu
me subestimou 
pra não ver que você tinha tantos erros quanto eu 
Eu errei em te querer 
tu errou em abusar do meu querer
E como querer não é poder 
nunca te tive 
tive só sonhos
ilusões 
Você nunca foi real 
real só a dor
a falta de amor
Próprio 
Próprio de uma menina negra que não sabe o que é 
Amor próprio
Só o que sabe é propriedade 
sempre privada
privada de soltar o cabelo, 
privada de soltar o verbo 
privada para esfregar enquanto,
o cabelo, o verbo e o peito 
seguem presos.
Privada de soltar as correntes
as algemas do último século 
É secular 
amar sem ser amada é secular 
chorar e não poder cair as lágrimas é secular 
desmoronar e se manter forte é secular
andar em círculos na tentativa frustada de esquecer quem amou 
É secular 
É Secular
E eu  rodei, 
rodei
rodei
Sem olhar em frente
atravessei 
nevoeiro de amor sorrateiro 
Amor capitão 
Amor engenho
Amor negreiro
Amor sinhá
Que prende, adoece, suga
amor que não liberta 
Quantas princesas Isabel hei de amar ?
Quantos capitão do mato falam de amor e não correspondem nos atos?
até encontrar a Firmina que mora em mim 
Quanto há de ruir?
até me deparar com a sete saias 
a mulher homem 
a Caboatá 
a que ponto minha dor há de chegar? 
Chegará o dia 
dia da alforria 
dia de ter direito 
como livre cidadã 
Livre 
Cidadã 
Mulher negra
Livre 
Cidadã 
Que luta, que corre, que é livre 
Para amar 
e ser sã.

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