28 de junho de 2020


Preta, deixa eu te dizer 
pode comemorar, você se formou
ganhou prêmios
realizou seu sonho de arte-educação.

Preta, deixa eu te dizer
aquele grande amor, nem amor era
nessa nova era, outros desamores já vieram
e como todos que conheceu, também se foram.

Preta, você é poeta
sempre foi
seu cabelo cresceu
o inverno vem e volta
cada ano mais escasso.

Preta, deixa eu te dizer
que todo aquele medo da cidade grande se foi
mas o medo da solidão não, nem tudo mudou
estamos em solitude
atitude de se amar em plena solidão.

Preta, as crianças estão enormes
tu já viajou sozinha, conheceu o Rio de Janeiro, São Paulo e Uberlândia
já ficou e já vazou do próprio estupro
eu não te culpo, eu não me culpo
não tinha como imaginar o que íamos viver isso
essa cicatriz não nos define.

Preta, descobrimos o amor
amor pelas nossas opiniões
pelas nossas posições e nosso desejos
hoje desejamos uma mulher linda
é não era brincadeira nada daquilo, você gostava sim de mulher
eu gosto de mulher, gostamos de uma cabocla, linda, preta, mulher.

Preta, deixa eu te dizer
passamos por poucas e boas
abusos, choros e muitas alegrias
e aqui estamos
vivas, negras, inseguras e radiantes
sedentas por vida.


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